sábado, 2 de fevereiro de 2013

SEGUNDA CARTA DE UM ZÉ, À SENHORA DO PODER!


ÁGUA OU MORTE! Transposição JÁ!



       Zé, da terra dos viventes, aqui dos sertões, dos cariris, e das ressequidas terras nordestinas, à Senhora mandatária da nação brasileira, e a todos os guardiões da ordem, das riquezas, dos poderes acumulados, da ética, da moral e dos bons costumes... E, também para os sem moral, sem bons costumes, e desprovidos de quaisquer resquícios éticos...


Querida e honrada senhora, escrevi uma primeira carta, sem que tivesse o privilégio de uma resposta, e certamente não a obterei; Não lamento, pois, quem, como eu, nascido no Brasil de terceiro mundo; nordestino, de quarto mundo; paraibano, que pela ordem deverá ser de quinto mundo; filho do Cariri, certamente de sexto mundo; e criado no sertão, que a essa altura, já se inclui no sétimo mundo.... E, para completar, recebi carinhosamente dos meus pais, o nome de Zé... Que olhos me olhariam e que ouvidos me ouviriam? Quem me daria atenção?

     Ainda assim, honrada senhora, volto a lembrar, que por aqui, somos milhões de meninos chamados Zé, e meninas chamadas Maria. Que ao longo dos últimos quinhentos anos, fomos roubados, vilipendiados, machucados, desconsiderados, e vitimados pelo esquecimento do poder dominante, e ainda assim, construímos o que hoje temos, pagamos os nossos impostos, produzimos, dedicamos os nossos conhecimentos, e entregamos a nossa própria vida, para ver a nação brasileira no podium da liberdade, da independência econômica, e para que pudéssemos legar aos nossos pôsteres, um mundo mais digno, onde o pão de cada dia fosse posto em todas as mesas.
Assim, digníssima senhora, ouso relembrar, que há séculos, não há pão na mesa dos nordestinos, aliás, que também não temos mesa.

     Agora, nesta segunda missiva, tenho a honra de refazer a petição anterior, no sentido de que o Nordeste seja lembrado, antes que a seca mate o que ainda resta; antes que se esvaia o restante das verbas destinadas à transposição do Rio São Francisco; antes que o futuro se torne em lamentos, pelo que poderia ter sido feito, e não se fez; antes dos próximos pedidos de votos... Antes que seja tarde demais.

     Visite senhora o torrão que ainda é nosso, caminhe pelas nossas veredas, pise na aridez dos nossos últimos suspiros... Pode vir no nosso avião, sabemos o quanto é precioso o tempo dos que se entronizam no difícil e inóspito trono da alvorada. Prometo que a aplaudiremos quando a poderosa aeronave presidencial, tocar o solo nordestino... Apesar da aparência rude, somos cavalheirescos, e de lhano e respeitoso trato.
ÁGUA OU MORTE! TRANSPOSIÇÃO JÁ
E, por fim, nos postaremos a ouvir o mais esperado de todos os gritos – ÁGUA OU MORTE! Transponham-se as águas do Rio São Francisco! E viva o povo nordestino! 


Viva o Brasil! 

Viva a esperança!.
Sou apenas mais um Zé,
Filho feliz do Nordeste,
Onde a seca se repete,
Mas, não perco a minha fé.
É a rogatória que humildemente subscrevo.

José Salvador Pereira.

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