terça-feira, 24 de maio de 2011

A LINGUAGEM DOS SINOS

      Em tempos memoráveis de minha infância, o meu pai, o evangelista Zacarias Salvador, a minha mãe Regina, e eu, fomos morar em Itaporanga, no vale do Piancó, onde dava-se inicio a um trabalho evangélico, sob os auspícios de uma Missão Pentecostal oriunda da Inglaterra, hoje ACEV.  O irmão Zacarias era o dirigente local. Fomos morar na Rua do Rosário cujo marco principal era uma imponente Igreja Católica Romana, cujo sino badalava em todos os momentos que antecediam as práticas religiosas e por ocasião da morte de pessoas, que dependendo da sua importância  batiam por mais ou por menos tempo.
       Um dia, junto a outras personalidades do meu mundo infantil ouvimos badaladas diferentes, tensas, longas e muito mais demoradas do que o normal. Corremos para as proximidades da Igreja e vimos o sino girando sobre si, para nós ele estava dando “canga pé” então descobrimos que o Papa havia morrido... Lembro-me hoje, como eram pomposos os toques e distintas as badaladas... Mais de meio século depois, me questiono:
O que os sinos nos dizem? Como traduzimos os sons do seu bronze, que retinem pelos páramos de gerações e gerações? Às vezes apanho-me desejando pastorear um rebanho em cuja Igreja existisse um campanário e neste um afinado sino, para ouvi-lo tocar não o chamado dos que vão e voltam e não sabem por que o fazem, ou o toque das chamadas dos mortos “importantes”, alertando que os vivos sequer sabem até onde o espaço torna inaudível e ineficaz os sons propagados pelo bronze inerte e frio.
O meu sonho seria de ter no campanário da Igreja um sino que ecoasse o chamado dos perdidos e apontasse o caminho da vida! Um sino cujos sons  alertassem do perigo os incautos, que trouxessem à memória as palavras da vida e expressassem o chamado das ovelhas para o aprisco do Eterno Senhor. Desejaria ouvir os sinos da alegria, da harmonia, da fé e da paz, que me chamassem para um encontro e não para um local, para vida e não para morte, para inicio e não para o fim. O meu sonho seria de ouvir o seu som como sinal definitivo de vinde, à proteção do Bom Pastor e como aceno de portas que se abrem para receber as ovelhas perdidas de Israel.
Desejo ouvir o toque da esperança e não dos desenganos, da alegria e não da tristeza, da paz e não da guerra, almejo afinal, ouvir no toque ao pôr-do-sol, as badaladas de um perene renascer.

Rev. José Salvador Pereira

Igreja Presbiteriana do Brasil

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